Wanderlei Barbosa e Karynne Sotero durante viagem a Israel, em maio de 2025
Divulgação/ Consórcio Brasil Central (BrC)
O afastamento do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) e da primeira-dama Karynne Sotero completa um mês nesta sexta-feira (3). Eles foram afastados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) durante a segunda fase da operação Fames-19, da Polícia Federal, que investiga um suposto esquema de desvio de recursos públicos em contratos para compra de cestas básicas na pandemia de Covid-19. Desde então, o vice Laurez Moreira (PSD) assumiu o cargo.
A defesa de Karynne afirmou que “está acompanhando o governador Wanderlei Barbosa nas discussões com os advogados e aguardando a decisão para restabelecer a normalidade jurídica, política e democrática no estado do Tocantins, com o retorno do eleito pelo povo”.
A defesa de Wanderlei Barbosa não enviou resposta até a última atualização desta reportagem.
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Wanderlei Barbosa e a primeira-dama devem ficar afastados pelo prazo de 180 dias, ou seja, seis meses. Em setembro de 2025, o governador afastado entrou com pedido de habeas corpus para tentar voltar ao cargo. O pedido foi recusado em um primeiro momento, por falta de documentação, mas segue sendo analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Relembre a investigação que levou ao afastamento de Wanderlei Barbosa.
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Investigações da Fames-19
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Wanderlei Barbosa e a primeira-dama foram afastados no dia 3 de setembro de 2025. A decisão foi do ministro Mauro Campbell, do STJ, mas depois foi referendada pela Corte Especial do órgão. Os dois são suspeitos de desvios de recursos públicos realizados em 2020 e 2021, momento em que foi declarado estado de emergência em saúde pública por conta da pandemia de Covid-19.
A Polícia Federal investiga crimes de frustração ao caráter competitivo de licitação, peculato, corrupção passiva, lavagem de capitais e formação de organização criminosa.
Na época, Wanderlei seria o responsável pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas), órgão que recebia os recursos que iriam ajudar a população durante a pandemia. Segundo a PF, Wanderlei Barbosa teria mantido um esquema de desvios através de contratações ilícitas.
As investigações apontam que Karynne teria intermediado as contratações, atuado na organização da parte documental, no cumprimento dos requisitos necessários ao recebimento de recursos públicos, e tomou ciência da distribuição das vantagens indevidas previamente combinadas.
Cestas básicas forjadas
Investigações apontam que houve contratação irregular de empresas para fornecer alimentos. Na época, algumas empresas tinham sido abertas pouco antes de serem contratadas, enquanto outras tiveram mudanças no ramo de atividade.
Uma das empresas contratadas teria forjado a montagem das cestas básicas. Ela supostamente pegava cestas montadas, emprestadas de outra empresa, para poder enganar a fiscalização da Secretaria de Estado do Trabalho e Desenvolvimento Social.
Foto mostra Wanderlei Barbosa entregando cestas básicas no distrito de Buirtirana, durante período da pandemia
Ruraltins/Governo do Tocantins
A polícia também apurou que uma lista com 1.500 nomes e CPFs foi apresentada por uma das empresas para prestar contas do falso recebimento dos produtos.
Núcleos de atuação do esquema
O suposto esquema atuava em quatro núcleos. Conforme as investigações, o governador afastado e a primeira-dama fariam parte do núcleo de agentes políticos. Esse grupo também inclui agentes do poder Legislativo do Tocantins, que são suspeitos de desviar recursos por meio de emendas parlamentares em troca de vantagens indevidas.
A Polícia ainda apontou que o esquema envolvia um núcleo de servidores públicos, responsáveis pelo direcionamento das licitações e operações, um núcleo empresarial com laranjas que simulavam situação de ampla concorrência, além de outro núcleo destinado à lavagem de capitais.
Dança das cadeiras após afastamento
Wanderlei Barbosa (Republicanos) e Laurez Moreira (PSD) durante cerimônia de posse, em 2023.
Divulgação/Governo do Tocantins
No mesmo dia do afastamento de Wanderlei, o governador em exercício, Laurez Moreira, exonerou todos os secretários do primeiro escalão. O anúncio foi feito durante uma coletiva de imprensa e as exonerações foram publicadas no Diário Oficial do Estado.
Segundo Laurez, as exonerações atendiam a uma recomendação do ministro Mauro Campbell. Veja os nomes aqui.
Após as exonerações, Laurez passou a nomear os novos secretários, mas acabou reconduzindo três nomes de volta aos cargos. As nomeações seguiram durante todo o mês de setembro.
Troca de farpas
Nas redes sociais, Wanderlei Barbosa comentou sobre seu afastamento e alegou sofrer perseguição política por parte de Laurez Moreira.
“Derrotei pessoas que não aceitaram e se juntaram ao vice-governador Laurez. Durante todo esse tempo eu sofri muito, por isso houve o meu afastamento do Laurez, porque eu sabia o que ele estava fazendo. Eu tinha informações diárias dele em Brasília, tentando o tempo inteiro me afastar do mandato”, comentou Wanderlei.
Wanderlei Barbosa divulga vídeo em que afirma ser perseguido
Laurez respondeu ao governador afastado dizendo que eram assuntos que não tinha o que falar, mas que as afirmações se tratavam de desrespeito.
“O afastamento dele é questão da Justiça, e é um problema que tem que resolver com a Justiça, não comigo, né? Quem sou eu para tramar contra alguém ou fazer alguma coisa. Ele tem que responder pelos atos que praticou”, comentou.
Alguns dias após o afastamento, o governador em exercício suspendeu o contrato com a empresa de táxi aéreo que fornecia um avião usado para viagens de Wanderlei Barbosa. Como justificativa, Laurez afirmou que entende que um governador deve viajar para trazer recursos para o Estado, “mas não sair com seus amigos para fazer viagens internacionais”.
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Dois governadores nas redes sociais
A decisão do Superior Tribunal de Justiça estabelece o afastamento de Wanderlei Barbosa do governo do Tocantins. Ele não pode exercer as funções de governador, mas não perde o cargo. Como o Estado não pode ficar sem um gestor, o vice assumiu o posto.
E justamente por conta dessas mudanças, o Tocantins passou a ter dois governadores nas redes sociais. Na biografia do Instagram, ambos se denominam “Governador do Tocantins”.
Redes sociais de Wanderlei Barbosa (Republicanos) e Laurez Moreira (PSD)
Instagram/Reprodução
Íntegra da nota de Karynne Sotero
A senhora Karynne Sotero, por sua assessoria, esclarece que, muito embora tenha sido afastada por decisão judicial, o cargo que ocupava no governo do estado do Tocantins era de Secretária extraordinária de Participações Sociais, portanto, antes de mais nada, um cargo político, de confiança, vinculado ao governador do Estado.
Assim, está acompanhando o governador Wanderlei Barbosa nas discussões com os advogados e aguardando a decisão para reestabelecer a normalidade jurídica, política e democrática no estado do Tocantins, com o retorno do eleito pelo povo.
Aguardamos a decisão do STF com serenidade, sempre confiantes na Justiça e em Deus.
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Fonte: G1 Tocantins