‘Coração de lutador’ é punhado de boas atuações, boa direção e boas ideias enterrado em história chata; g1 já viu

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“Coração de lutador – The smashing machine” é um punhado de boas atuações, que sustentam uma boa direção com boas ideias, enterrado em uma história (muito) chata.
Dá para dizer o contrário também, numa situação meio copo meio cheio. Otimistas diriam que é um filme chato que dá espaço para ótimas atuações, amarradas por uma boa direção com uma discussão interessante sobre perda e frustrações.
De fato, a cinebiografia sobre o lutador de MMA pioneiro Mark Kerr, que estreia nesta quinta-feira (2) nos cinemas brasileiros, não é ruim. Não chega nem a ser medíocre.
Mas nem os esforços inegáveis de Dwayne “The Rock” Johnson , que deve receber sua primeira indicação a Oscar, e da sempre estonteante Emily Blunt (dupla que já trabalhou junta em “Jungle Cruise”) são o suficiente para salvar uma trama maçante que começa em lugar nenhum e termina em lugar algum.
Assista ao trailer de ‘Coração de lutador – The smashing machine’
Um Oscar para Rock?
“Coração de lutador” escolhe abordar em especial os anos de Kerr (Johnson) no Pride, competição japonesa que nos anos 2000 chegou a disputar com o americano UFC o lugar de principal organização de MMA do mundo.
Cinebiografias são sempre pratos cheios para atores que querem ser levados a sério. Poucos poderiam interpretar um lutador peso pesado. Johnson agarra a oportunidade e definitivamente a leva a nocaute.
O antigo profissional do performático vale tudo entrega de longe a sua melhor atuação, com um Kerr doce e frustrado, gigante e frágil, que contrasta o tamanho de seus músculos com a suavidade de sua voz.
A seu lado, Blunt merecia ser lembrada mais uma vez pela Academia de Hollywood como a namorada instável e geniosa do protagonista. Juntos, a dupla abrilhanta a única cena verdadeiramente memorável do filme.
Emily Blunt e Dwayne Johnson em cena de ‘Coração de lutador – The smashing machine’
Divulgação
Drama sem foco
Toda cinebiografia aborda um recorte da vida do retratado. Neste caso, o diretor/roteirista Benny Safdie (que faz sua estreia solo após sucessos independentes com o irmão, Josh) escolhe momentos decadentes do antigo campeão do UFC.
Desde sua dependência em analgésicos à relação tóxica com a namorada e suas inevitáveis derrotas nos ringues do outro lado do mundo, o cineasta emprega uma fotografia que evoca o espírito dos anos 1990 e 2000 para explorar as fragilidades de um colosso humano. É preciso reconhecer o talento técnico e seu controle sobre o tema.
Infelizmente, também não dá para negar o ritmo arrastado de uma trama que nunca avança, bloqueada pelos tropeços de seu protagonista.
Sim, a vida real tem dessas coisas – mas a atenção dividida entre tantos obstáculos nunca se concentra o suficiente em nenhum deles para que uma empatia verdadeira se construa.
À primeira vista, “Coração de lutador” impressiona com a atuação (e os músculos) de Johnson. Pouco depois, flerta com o caminho de uma cinebiografia esportiva padrão sobre a relação de um atleta com as drogas.
Depois, acena para um drama sobre relações humanas que poderia ser interessante caso mergulhasse de cabeça na relação do casal, mas que nunca passa do superficial.
No fim, o filme comete o maior pecado que uma cinebiografia pode cometer: não justifica para o espectador o motivo pelo qual ele deveria conhecer a vida de seu retratado.

Fonte: G1 Entretenimento